Combate à Desertificação e à Seca

Entre o abandono de políticas públicas e a resistência de comunidades. O ODS 15 destaca a urgência de preservar o solo e garantir acesso à água com soluções sustentáveis e justiça climática.

Luiz Asts

6/22/20257 min read

No dia 17 de junho, o mundo celebra o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, uma data instituída pela ONU para alertar sobre os efeitos devastadores da degradação dos solos e da escassez hídrica — fenômenos que ameaçam diretamente a vida de mais de dois bilhões de pessoas no planeta. No Brasil, essa realidade é particularmente crítica no Semiárido nordestino, onde milhões de famílias convivem diariamente com o avanço da desertificação, o colapso da agricultura familiar e a insegurança alimentar.

A desertificação e a seca são duas faces da mesma tragédia silenciosa que assola milhões de brasileiros, especialmente no Semiárido nordestino. Com o agravamento das mudanças climáticas e o desmonte de políticas públicas ambientais, a degradação dos solos não apenas compromete a biodiversidade, mas também mina os direitos básicos à água, à alimentação, ao trabalho e à permanência no campo.

Diante desse cenário, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15 da Agenda 2030 da ONU torna-se fundamental. Seu propósito é claro: “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”. No entanto, o que se vê em grande parte do Brasil é um grave distanciamento entre essa meta global e a realidade das comunidades mais afetadas.

“Cuidar da terra é preservar a vida. O homem precisa aprender que a natureza não é inimiga, mas mãe que alimenta.” — Juscelino Olyveira, Agenda 30 – Ao alcance de todos

Brasil em processo de desertificação: um alerta ignorado

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 13% do território brasileiro já apresenta processos de desertificação, afetando regiões do Nordeste, norte de Minas Gerais e até áreas do Centro-Oeste. De acordo com o INSA, mais de 1.400 municípios estão em zonas suscetíveis, sofrendo com a devastação da caatinga, uso inadequado do solo e desmatamento predatório.

Ainda em 2025, o semiárido nordestino é a região mais vulnerável, com áreas como o Sertão do São Francisco (BA), Sertão Central (PE), Inhamuns (CE), Cariris Velhos (PB) e Seridó (RN/PB) já sofrendo com a desertificação. Além disso, a região Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, tem enfrentado secas intensas e acumulados de chuva abaixo da média, com impactos na produção agropecuária.

Em todos esses territórios, comunidades rurais enfrentam solo empobrecido, escassez de água e colapso da agricultura.

A seca como flagelo político: o caso da Transposição do Rio São Francisco

Prometida como a solução definitiva para a escassez hídrica do Nordeste, a transposição do Rio São Francisco — iniciada em 2007 — já consumiu mais de R$ 14 bilhões, enfrentou paralisações e escândalos. Em 2025, partes do projeto foram desativadas ou operavam de forma precária, por conta da falta de manutenção e disputas políticas locais.

Cidades como Monteiro (PB), Iguatu (CE) e Salgueiro (PE) seguem sofrendo com caminhões-pipa e reservatórios vazios, mesmo estando próximas aos canais.

“A política não pode ser maior que o povo. A terra clama por dignidade e gestão ética.” — Juscelino Olyveira, Agenda 30 – Ao alcance de todos

A vida no limite: cotidiano sob a seca

As consequências da desertificação são devastadoras e impactam diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros que vivem em regiões semiáridas. A degradação do solo torna a agricultura impraticável, levando ao desemprego no campo e à perda das fontes de sustento de famílias inteiras. A escassez de água compromete a produção de alimentos, afeta a criação de animais e gera um ciclo de miséria e vulnerabilidade que parece não ter fim.

Esse cenário força o êxodo rural, especialmente dos jovens, que migram em busca de melhores condições de vida nas cidades, muitas vezes enfrentando novas formas de exclusão social. As mulheres permanecem nas comunidades, geralmente como chefes de família, enfrentando múltiplas jornadas para garantir a sobrevivência — desde o cuidado com os filhos até a busca diária por água em longas distâncias. Crianças crescem em meio à precariedade, adoecem por falta de saneamento básico e veem seus sonhos serem consumidos pela terra seca e pelo abandono institucional.

Em muitos locais, a água — que deveria ser um direito universal — transforma-se em moeda política. O acesso a cisternas, caminhões-pipa ou poços artesianos é condicionado a favores pessoais, troca de votos e interesses partidários. Essa prática perpetua ciclos de dependência e impede o desenvolvimento autônomo das comunidades. O combate à desertificação, portanto, não é apenas uma pauta ambiental: é uma luta por dignidade, justiça social e liberdade cidadã.

Iniciativas de resistência: quando a terra floresce com dignidade

Apesar da omissão governamental, iniciativas da sociedade civil mostram que é possível conviver com o Semiárido de forma digna. O destaque é o programa “Um Milhão de Cisternas”, da ASA Brasil, que entre 2003 e 2015 beneficiou mais de 1 milhão de famílias com cisternas de captação de água da chuva.

Outros exemplos inspiradores:

  • Barreiras contra erosão e reflorestamento no Seridó (RN)

  • Tecnologias sociais como barragens subterrâneas e quintais produtivos

  • A experiência de Icó (CE) com agricultura sustentável e cisternas escolares

“Com pequenas ações locais, transformamos grandes realidades. Sustentabilidade é respeito à terra e à gente.” — Juscelino Olyveira

ODS 15: um chamado à regeneração

PRAD: Projeto de Recuperação de Área Degradada

O Brasil se comprometeu a restaurar milhões de hectares de terras degradadas até 2030. O ODS 15 pede a preservação da biodiversidade, o reflorestamento com espécies nativas e o fim do uso predatório dos recursos naturais.

Diante do avanço da desertificação, diversas comunidades nordestinas têm reagido com ações de reflorestamento e restauração ambiental que mostram que é possível recuperar áreas degradadas e transformar paisagens de escassez em territórios de vida. O reflorestamento com espécies nativas da caatinga tem se mostrado uma estratégia eficaz e de baixo custo, especialmente quando associado ao saber tradicional dos agricultores e à agroecologia.

No território do Seridó (RN/PB), projetos comunitários apoiados por ONGs e universidades vêm promovendo a implantação de barreiras de contenção de erosão e o plantio de espécies nativas como angico, juazeiro e mororó. Essas ações têm contribuído para a retenção de umidade no solo, o retorno da fauna local e a proteção de nascentes que estavam secando. Em comunidades de Parelhas (RN) e Patos (PB), agricultores familiares relatam que a produção de hortas e frutíferas voltou a ser possível em áreas antes consideradas improdutivas.

No município de Gilbués (PI) — uma das regiões com maior grau de desertificação do Brasil —, foi implantado o Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas e Sujeitas à Desertificação (PRADSD). Com apoio do Governo Federal e de instituições como a Embrapa, foram introduzidas técnicas como cordões de pedra, barraginhas, plantio em curvas de nível e uso de cobertura morta, combinadas ao reflorestamento com espécies resistentes ao clima semiárido. A recuperação do solo permitiu a volta da agricultura de subsistência e melhorou a infiltração da água das chuvas.

No Vale do São Francisco (PE/BA), associações locais vêm promovendo o reflorestamento das margens de riachos e açudes com apoio de jovens agroecologistas. As ações são realizadas de forma participativa, com educação ambiental nas escolas, mutirões e monitoramento por satélite. Em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), essas práticas ajudaram a reduzir o assoreamento de cursos d’água e inspiraram outros municípios da bacia a replicar a metodologia.

“É possível recuperar o que foi devastado. Basta plantar o futuro com as mãos do presente. A natureza responde com vida.” — Juscelino Olyveira, Agenda 30 – Ao alcance de todos

Esses casos demonstram que o reflorestamento no Semiárido não precisa esperar grandes investimentos governamentais. Com organização comunitária, apoio técnico e respeito aos biomas locais, a terra pode voltar a florescer — e com ela, a dignidade de seus povos.

Entre a omissão e a esperança

O combate à desertificação exige planejamento, financiamento e inclusão das comunidades. O fracasso de megaprojetos contrasta com o sucesso de soluções simples, de baixo custo e alto impacto social.

“Vamos cuidar do solo e das florestas, pois sem elas a vida se acaba. O planeta é nossa casa e não pode mais esperar.”  — Juscelino Olyveira

Valorizar boas práticas, denunciar retrocessos e exigir políticas sustentáveis é mais do que dever político — é um ato de justiça climática e compromisso com as futuras gerações.

Juscelino Olyveira tem como lema a seguinte frase: “A nossa meta é não deixar ninguém para trás

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