Semana mundial do meio ambiente - Consumir menos ou consumir melhor?

Repensar o consumo para preservar o planeta: a urgência de consumir melhor e produzir com responsabilidade é o que trata o ODS12

Luiz Asts

6/5/20255 min read

Um alerta para a urgência de transformar nossos hábitos

A Semana Mundial do Meio Ambiente nos convida a refletir, mais do que nunca, sobre a forma como consumimos. O consumo desenfreado, associado à lógica do descarte rápido, não apenas esgota os recursos naturais, como também sufoca o planeta com resíduos que se acumulam em nossos oceanos, solo e atmosfera. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 (ODS 12) propõe uma mudança urgente: repensar os padrões de produção e consumo para garantir qualidade de vida sem comprometer as futuras gerações.

A crise do consumo: impactos no meio ambiente e na vida marinha

Em seu livro Agenda 30, ao alcance de todos, Juscelino Olyveira alerta:

“Temos que repensar nossas atitudes de consumidores para evitarmos sujar o planeta, quanto mais racional eu for como consumidor, mais ajudarei no desenvolvimento sustentável e na preservação do meio ambiente”.

Essa responsabilidade individual e coletiva se torna ainda mais evidente diante de exemplos extremos de desequilíbrio ambiental: como a formação da chamada “Ilha de Plástico” no Oceano Pacífico, uma massa flutuante de lixo que já ultrapassa três vezes o tamanho da França. Animais marinhos, como tartarugas, aves e peixes, morrem ao ingerirem pedaços de plástico ou ficam mutilados ao se prenderem em resíduos humanos.

Boas práticas no Brasil e no mundo: iniciativas que inspiram

Mas nem tudo são más notícias. Há exemplos inspiradores que mostram que é possível trilhar outro caminho. No Brasil, projetos como o Recicla Sampa, em São Paulo, têm incentivado a coleta seletiva e o reaproveitamento de resíduos, enquanto cooperativas de catadores ganham protagonismo na cadeia de reciclagem. Outro exemplo nacional é o programa Mundo Verde Recicla, que coleta embalagens usadas e estimula os consumidores a darem destino correto aos seus resíduos.

Exemplos internacionais: soluções replicáveis

Na Europa, a cidade de Copenhague implementou um sistema de logística reversa para eletrônicos, reduzindo drasticamente o descarte ilegal de resíduos tecnológicos. Já em Gana, um projeto de reaproveitamento de tecidos usados criou uma rede de costureiras que transforma sobras têxteis em roupas e acessórios, promovendo inclusão social e sustentabilidade.

Dados alarmantes e a urgência da mudança

O livro de Juscelino também traz dados impressionantes:

“Por ano, os sete bilhões de seres humanos produzem 1,4 bilhão de toneladas de resíduos sólidos urbanos – uma média de 1,2 kg diariamente por pessoa”.

Diante desse cenário, repensar o consumo se torna mais que um gesto ambiental: é uma questão de sobrevivência.

  • Economia circular: prolongar a vida útil e reduzir impactos

Entre as propostas mais eficazes está a economia circular, modelo que visa prolongar a vida útil dos produtos, incentivar o reuso e promover cadeias de valor mais limpas. No Brasil, a startup Boomera tem se destacado por transformar resíduos complexos (como escovas de dente e cápsulas de café) em novos produtos, usando tecnologia nacional e parcerias com grandes empresas.

  • Upcycling: transformar com criatividade e consciência

Entre as estratégias mais inovadoras para lidar com o consumo e os resíduos está o upcycling — um conceito que vai além da reciclagem tradicional. Em vez de simplesmente transformar materiais descartados em matéria-prima de qualidade inferior, o upcycling propõe reaproveitar objetos e resíduos para criar novos produtos com igual ou maior valor agregado, muitas vezes com estética, função e design totalmente reinventados.

Esse conceito tem ganhado força em diversos setores, especialmente na moda, decoração e mobiliário. Marcas brasileiras como a Insecta Shoes, por exemplo, produzem calçados veganos a partir de roupas usadas e tecidos reaproveitados. Já no Ceará, cooperativas artesanais estão transformando lonas de caminhão, garrafas PET e banners publicitários em bolsas, acessórios e móveis.

Além de reduzir o volume de resíduos descartados, o upcycling valoriza a mão de obra local, estimula a economia criativa e promove uma nova mentalidade de consumo: menos descartável, mais consciente. O upcycling, portanto, não é apenas uma técnica: é uma forma de pensar o mundo com menos desperdício e mais responsabilidade estética, econômica e ambiental.

Outro exemplo inspirador de projeto sustentável no Brasil é o Mãos de Amparo, sob o comando do designer Nicolau Vinciprova. A iniciativa une sustentabilidade, inclusão social e amor pelos animais ao reaproveitar retalhos têxteis para a criação de peças de artesanato e decoração, feitas por costureiras de baixa renda da zona rural do Vale do Café, no interior do Rio de Janeiro.

O projeto promove geração de renda para artesãs em situação de vulnerabilidade e ainda destina parte dos lucros para a manutenção do Abrigo Superamigos, que acolhe e cuida de cerca de 100 cães e 20 gatos abandonados. Mais do que uma ação criativa, o Mãos de Amparo representa uma cadeia de impacto social positiva: reaproveita resíduos têxteis que seriam descartados, estimula o consumo consciente e fortalece comunidades periféricas e a proteção animal. Trata-se de um modelo exemplar de economia circular com propósito. 

A decisão é diária: o papel de cada consumidor

A própria ONU, em suas diretrizes para o ODS 12, reforça: é essencial garantir que todos tenham informação e consciência sobre estilos de vida em harmonia com a natureza. Ou seja, o desafio não está apenas nas grandes indústrias, mas nas escolhas cotidianas de cada pessoa. Será que precisamos mesmo de mais um celular, de mais uma peça de roupa, de mais um acessório? Ou será que estamos, como questiona Juscelino, consumindo por impulso?

Neste contexto, educar para o consumo responsável torna-se um imperativo. Escolher produtos duráveis em vez dos descartáveis, optar por itens produzidos localmente, reutilizar, reparar e, sobretudo, reduzir. São decisões simples, mas que acumuladas, geram transformações profundas.

Como reforça Juscelino Olyveira em seu livro:

“Quanto mais racional eu for como consumidor, mais ajudarei no desenvolvimento sustentável e na preservação do meio ambiente.”