Semana mundial do meio ambiente - Crise climática
O que ainda falta para transformar discurso em ação? No epicentro de uma emergência ambiental global, o ODS 13 convoca governos, empresas e cidadãos a reagirem com urgência.
Luiz Asts
6/2/20255 min read


Esta é a Semana Mundial do Meio Ambiente, e todos os dias estamos mergulhando em temas fundamentais da Agenda 2030 ligados à sustentabilidade. Hoje, abordamos um dos objetivos mais críticos: o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
O planeta está fervendo — ou, paradoxalmente, congelando onde jamais deveria. Em janeiro de 2024, pela primeira vez na história, foi registrada neve sobre o deserto de Al-Nafud, na Arábia Saudita, um fenômeno que surpreendeu meteorologistas e levou moradores da região de Al-Jawf às montanhas para testemunhar a paisagem inusitada. Embora eventos como esse possam parecer isolados ou até encantadores, eles são indicadores de uma profunda instabilidade nos padrões atmosféricos globais — instabilidade esta, diretamente associada às mudanças climáticas. Ondas de calor em pleno inverno, ciclones extratropicais no sul do Brasil, incêndios florestais fora de controle no Canadá e inundações devastadoras na Ásia completam um retrato alarmante de um clima fora de controle.
Como alertou o climatologista Michael E. Mann, da Universidade da Pensilvânia: “Estamos enfrentando uma crise existencial. A diferença entre agir agora e atrasar a ação por mais uma década pode ser a diferença entre um planeta habitável e outro inóspito.”
No Brasil, os impactos climáticos têm sido cada vez mais severos. As chuvas históricas que assolaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 não foram um evento isolado. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), eventos extremos se tornaram 63% mais frequentes nos últimos 10 anos. A tragédia gaúcha escancarou a urgência de políticas públicas integradas, prevenção e adaptação.
Em seu livro Agenda 2030 ao Alcance de Todos, no capítulo dedicado ao ODS 13, Juscelino Olyveira destaca que a mudança climática “tem provocado danos no meio ambiente, na economia e na vida de todos nós”, e vai além: “Sabemos que a ganância humana por dinheiro, ao transformar o verde em dólar, desmatando as florestas para extração de ouro e criação de gado, de maneira insustentável, tem causado grandes danos ao clima”.
Juscelino alerta ainda que “é preciso que se tomem medidas urgentes para combater as mudanças do clima com seus respectivos impactos, que estão causando danos enormes na vida de todos os seres”. Ele reforça a importância de ações imediatas para a sobrevivência planetária e denuncia os retrocessos políticos, como a queda recorde na aplicação de multas ambientais, mesmo diante do aumento do desmatamento e das queimadas.
O panorama mundial: compromissos frágeis e avanços tímidos
Em 2015, no Acordo de Paris, líderes globais se comprometeram a manter o aumento da temperatura média global abaixo de 1,5ºC. Hoje, segundo o relatório State of the Global Climate 2023 da Organização Meteorológica Mundial, já alcançamos um aquecimento de 1,45ºC em relação ao período pré-industrial. A margem de segurança está prestes a ser ultrapassada.
Os Estados Unidos e a China permanecem os dois maiores emissores de gases de efeito estufa, responsáveis por 40% das emissões globais. Mesmo com investimentos crescentes em energias limpas, o consumo de carvão segue alto em ambos os países, gerando dúvidas sobre a real disposição para uma transição energética completa.
O professor indiano Vandana Shiva, referência mundial em justiça ambiental, costuma repetir: "Não se trata apenas de mudar as fontes de energia. É preciso mudar o modelo econômico que consome a Terra como se fosse infinita." Já a cientista japonesa Machiko Fukuda, da Universidade de Tóquio, afirma: "A Ásia está entre os continentes mais vulneráveis às mudanças climáticas. Precisamos de integração regional e solidariedade global. Ninguém estará seguro sozinho."
Greenwashing: promessas verdes em embalagens vazias
No marketing institucional, o discurso verde cresceu exponencialmente. Contudo, muitas empresas adotam práticas de greenwashing, iludindo consumidores com selos de sustentabilidade sem mudanças reais. Um relatório da ONG Earthsight denunciou recentemente uma rede de supermercados europeia que vendia carvão vegetal “sustentável” proveniente de áreas desmatadas ilegalmente na África.
Essa manipulação da imagem ambiental freia o progresso do ODS 13. Como destaca o professor brasileiro Paulo Artaxo, físico da USP e membro do IPCC: “A urgência climática exige ação real e fiscalizações rigorosas. Discurso não reduz emissões. Tecnologia sozinha não salva o planeta.”
Casos de sucesso e caminhos possíveis
Felizmente, também existem bons exemplos. No Brasil, o projeto Ilumina Pantanal, da Eletrobras, levou energia solar para comunidades isoladas do Mato Grosso do Sul, reduzindo a queima de lenha e o uso de geradores a diesel. Na Dinamarca, mais de 50% da energia elétrica já é gerada por fontes eólicas. No Butão, o país sequestra mais carbono do que emite, graças à proteção florestal constitucional e ao incentivo à agroecologia.
Medidas como reflorestamento, incentivo à agrofloresta, cidades inteligentes e mobilidade sustentável são essenciais. É o que reforça o trecho da obra de Juscelino: “Enquanto não entenderem que ninguém come dinheiro, ninguém bebe dinheiro e que é necessário um trabalho preventivo para se combater as mudanças climáticas [...], todos ficarão expostos a diversos sofrimentos como doenças, morte, fome, perdas do lar”.
O que falta, então?
Falta coragem política. Falta integração entre os países. Falta, principalmente, que a sociedade entenda que a crise climática é um problema ético e coletivo, que atinge mais duramente os pobres e marginalizados. Como afirma a especialista em políticas públicas brasileiras Alessandra Nilo: "Os dados mostram um país cada vez mais distante do desenvolvimento sustentável, e as consequências deverão ser sentidas por muito tempo."
A humanidade tem conhecimento, tecnologia e recursos para agir. O que ainda falta é a decisão.
Como dizia o poeta Josué de Castro: “A fome é a expressão biológica de todas as injustiças sociais.” A crise climática, por sua vez, é a expressão atmosférica dessas mesmas injustiças.







