Semana mundial do meio ambiente - Oceano de problemas
Por que salvar os mares é salvar a nós mesmos? A Semana do Meio Ambiente também mergulha na urgência de proteger a vida marinha — uma responsabilidade global que começa em cada atitude
Luiz Asts
6/6/20256 min read


Ilha de plástico, localizada no oceano Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia, é o maior depósito de lixo oceânico do mundo com 1,8 trilhões de pedaços de plástico flutuantes.
Outro tema que abordamos nesta Semana Mundial do Meio Ambiente é a vida na água, foco do ODS 14 – Vida na Água da Agenda 2030 da ONU, um dos mais negligenciados e, ao mesmo tempo, mais urgentes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O ODS 14 nos convida a conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos. A saúde do planeta depende diretamente da saúde dos mares — e hoje, essa saúde está gravemente comprometida.
Os oceanos cobrem cerca de 71% da superfície da Terra, produzem mais da metade do oxigênio que respiramos e absorvem aproximadamente 30% das emissões globais de CO₂. Ainda assim, estamos destruindo esse ecossistema vital com níveis alarmantes de poluição, sobrepesca, acidificação das águas e lixo plástico. Segundo a ONU, mais de 11 milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos todos os anos. São garrafas, embalagens, redes de pesca, sacolas e microplásticos que sufocam a vida marinha, afetam a biodiversidade e entram na cadeia alimentar humana.
O autor e educador Juscelino Olyveira trata com indignação e urgência o tema em seu livro Agenda 30 ao Alcance de Todos. Ele escreve:
“Atualmente, a vida dos seres que vivem nas águas dos rios, oceanos, mares tem sido muito difícil, haja vista a falta de respeito de muita gente que polui as águas, colocando em risco a vida de todos esses seres. É necessário que todos tomem consciência e comecem a conservar, preservar e promover o uso sustentável dos rios, mares, oceanos e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.”
Além disso, ele reforça a necessidade de uma nova postura cidadã em relação ao lixo:
“Chega de sujar as praias! O lixo de muita gente irresponsável tem causado a morte de várias aves e vários animais que comem essa sujeira pensando ser alimentos. [...] Vamos tomar consciência de que somos todos moradores do planeta Terra e temos a obrigação moral de cuidar bem da nossa casa em comum.”
A tragédia invisível: animais sufocados pelo consumo humano
Tartaruga marinha que cresceu com um plastico em seu casco
O plástico que jogamos fora muitas vezes acaba no mar. Estudos mostram que, em 2050, pode haver mais plástico do que peixes nos oceanos, em termos de massa, se não mudarmos nossos padrões de consumo e descarte. Tartarugas marinhas, por exemplo, frequentemente confundem sacolas plásticas com águas-vivas e morrem asfixiadas. Aves costeiras engolem fragmentos de plástico e morrem por obstrução intestinal. Golfinhos, baleias e leões-marinhos são encontrados com redes enroladas em seus corpos, membros mutilados ou estômagos cheios de lixo.
Quando uma tradição se torna tragédia: o peso da cultura sobre a vida marinha
Em algumas partes do mundo, a crueldade contra os seres marinhos ultrapassa os impactos da poluição e se manifesta em tradições que, embora antigas, já não encontram justificativa ética ou ambiental no século XXI. Um exemplo polêmico é o festival “grindadráp”, realizado anualmente nas Ilhas Faroe, território autônomo da Dinamarca, situado entre a Escócia, Noruega e Islândia. Durante o verão do hemisfério norte, centenas de baleias-piloto e golfinhos são encurralados em enseadas e mortos em um ritual que remonta a 1584. Para a população local, a prática é um símbolo de identidade cultural e solidariedade comunitária. No entanto, para a comunidade científica, defensores dos direitos animais e ambientalistas em todo o mundo, trata-se de um ato brutal, anacrônico e desnecessário, sobretudo em tempos em que a conservação da vida marinha é uma urgência planetária. Mesmo sendo legalizada pelas autoridades locais, a “caça cultural” gera crescente repúdio internacional por simbolizar um profundo desrespeito à vida animal e ao equilíbrio dos oceanos.
Essas práticas expõem a ausência de políticas de proteção animal e a fragilidade dos acordos internacionais que deveriam garantir a conservação da vida marinha.
Iniciativas que inspiram: o caso das tartarugas no Brasil
Projeto Tamar em Feranando de Noronha
Apesar dos desafios, há boas notícias. Um exemplo notável é o Projeto Tamar, no Brasil, que há mais de 40 anos atua na proteção de tartarugas marinhas em áreas costeiras. Graças ao trabalho de biólogos, pescadores locais e voluntários, o número de ninhos protegidos aumentou significativamente, e várias espécies ameaçadas têm mostrado sinais de recuperação. O projeto se tornou uma referência global em conservação marinha e educação ambiental, mostrando que é possível mudar realidades com ciência, política pública e engajamento social.
Outros exemplos incluem ações de reflorestamento de manguezais, incentivo à pesca sustentável e programas de limpeza de praias. Ações de educação ambiental em escolas costeiras e parcerias com comunidades pesqueiras também têm gerado resultados concretos, promovendo a recuperação de habitats degradados e a valorização do conhecimento tradicional.
A face oculta da aquicultura: sofrimento animal e desequilíbrio ambiental
Uma prática cada vez mais comum, apresentada por muitos como solução ecológica, tem despertado sérias preocupações: a criação intensiva de peixes e ostras em fazendas marinhas subterrâneas. No Brasil, na Noruega, Chile e Vietnã, grandes redes são instaladas sob o mar para a engorda e abate de peixes como tilápias e salmões. Nesses tanques, milhares de animais vivem amontoados, com baixa oxigenação, sofrendo de doenças, deformações e estresse constante. O uso frequente de antibióticos para evitar epidemias afeta diretamente o ecossistema marinho ao redor.
Ainda mais controversa é a produção forçada de pérolas por ostras. Na China, Japão e Filipinas, essas criaturas são submetidas à inserção artificial de corpos estranhos, provocando a criação das pérolas como mecanismo de defesa. Embora muitas vezes consideradas “inofensivas”, ostras são seres vivos que reagem ao sofrimento, e sua exploração em massa levanta questionamentos éticos sérios.
Sob o disfarce de inovação e sustentabilidade, essas práticas escondem realidades de crueldade silenciosa e impacto ambiental profundo. É urgente que a produção de alimentos marinhos leve em conta o bem-estar animal e os limites ecológicos. Nem toda tecnologia que se diz verde respeita a vida.
Um chamado à ação: proteger os oceanos é proteger a nós mesmos
O ODS 14 não é apenas sobre animais marinhos. É sobre o equilíbrio do clima, a segurança alimentar, a economia global e a saúde humana. Mais de 3 bilhões de pessoas dependem diretamente dos oceanos para alimentação e sustento. A destruição da vida marinha ameaça cadeias produtivas inteiras, aumenta a vulnerabilidade das populações costeiras e acelera o colapso ambiental.
É preciso repensar nosso modelo de desenvolvimento, reduzindo drasticamente o uso de plásticos descartáveis, investindo em saneamento básico (grande parte da poluição marinha vem de esgoto não tratado) e fortalecendo as políticas públicas de proteção aos mares. Como lembra Juscelino Olyveira, a mudança começa no pequeno:
“Com pequenas atitudes do dia a dia, como jogar o lixo no lugar certo, podemos salvar milhares de vidas marinhas.”
Os oceanos estão pedindo socorro — e a resposta precisa ser rápida e coletiva. A poluição marinha, a sobrepesca, a criação intensiva e a degradação dos ecossistemas aquáticos não são problemas isolados: são sintomas de um modelo de consumo inconsequente. Proteger os mares é proteger a nós mesmos. É garantir que haja peixe no prato, ar limpo para respirar, clima estável para viver. É entender que a vida na Terra depende da vida na água. Que esta semana do meio ambiente seja um ponto de virada. Para mudar o mundo, é preciso, antes, mudar o olhar.
O livro do Juscelino Olyveira, Agenda 30, ao alcance de todos pode ser adquirido no site da Ícone Editora. Clique AQUI e confira.







