Semana mundial do meio ambiente - Energia Acessível e Limpa
Quando o progresso ilumina sem destruir, cumprimos o ODS 7: energia limpa, acessível e sustentável para todos.
Luiz
6/3/20257 min read


A energia move o mundo. Literalmente. Dos aparelhos domésticos às grandes indústrias, da mobilidade urbana aos hospitais, ela é o fio condutor da vida moderna. Contudo, a forma como a humanidade tem produzido e consumido energia está na raiz de muitos dos problemas ambientais que enfrentamos hoje.
Diante do colapso climático em curso, da crescente demanda energética global e da urgência de justiça socioambiental, o ODS 7 propõe um desafio central: garantir acesso à energia limpa, sustentável, segura e a preço acessível para todos até 2030.
A herança dos combustíveis fósseis e a urgência da transição
Desde a Revolução Industrial, o desenvolvimento econômico se deu à custa da queima de carvão, petróleo e gás natural — fontes altamente poluentes e finitas. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), cerca de 73% das emissões globais de gases de efeito estufa vêm da geração de energia e de seu uso nos setores de transporte, indústria e construção. A dependência dos combustíveis fósseis é, portanto, um dos maiores obstáculos à mitigação das mudanças climáticas.
O professor indiano Ajay Mathur, diretor-geral da International Solar Alliance, afirma:
“A transição para energia limpa não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma oportunidade estratégica para redesenhar as economias em torno da sustentabilidade e da inclusão.”
No entanto, essa transição precisa ser feita de forma justa. Países em desenvolvimento, que muitas vezes enfrentam déficits estruturais de acesso à energia, devem poder crescer economicamente com base em matrizes energéticas limpas e sustentáveis, sem repetir os erros das nações industrializadas.
Estatísticas e tendências do setor energético
O Relatório Renovables 2024 da IEA aponta que a capacidade global de geração de energia renovável cresceu 50% em 2023, o maior salto das últimas duas décadas. A energia solar fotovoltaica lidera esse avanço, com a China respondendo por mais de 50% da expansão global.
Ainda assim, cerca de 675 milhões de pessoas — a maioria na África Subsaariana — ainda vivem sem acesso à eletricidade. E mais de 2,3 bilhões cozinham utilizando lenha, carvão ou esterco, o que compromete sua saúde e o meio ambiente.
No Brasil, a matriz elétrica é majoritariamente renovável: 92,9% da eletricidade em 2023 foi gerada por fontes limpas, sendo a maior parte por hidrelétricas, seguidas por eólica, solar e biomassa. Porém, o desafio está em ampliar essa energia limpa de forma descentralizada, democratizada e resiliente às mudanças climáticas, como as secas prolongadas que afetam os reservatórios.
Greenwashing: a maquiagem verde do atraso
A corrida das empresas pela “sustentabilidade” também esbarra em um fenômeno perigoso: o greenwashing. Trata-se da prática de promover iniciativas que parecem ambientalmente responsáveis, mas que, na realidade, escondem práticas insustentáveis. Grandes corporações petrolíferas, por exemplo, divulgam ações em energias renováveis enquanto seguem ampliando investimentos em exploração de gás e petróleo.
Como alertou Michael Barnard, analista sênior da CleanTechnica:
“Muitas empresas dizem estar comprometidas com a descarbonização, mas seus portfólios e investimentos contam uma história muito diferente.”
Esse tipo de dissonância compromete a credibilidade do setor e atrasa a transição energética real. Exige-se, portanto, transparência, regulação eficaz e pressão da sociedade para que a sustentabilidade seja genuína e mensurável.
Leia o artigo: Greenwashing: A Farsa da Sustentabilidade Corporativa que ameaça o planeta
Soluções inovadoras e casos de sucesso
Complexo Noor Ouarzazate
Apesar dos desafios, o mundo já testemunha soluções inspiradoras. O Marrocos, por exemplo, abriga uma das maiores usinas solares do mundo: o complexo Noor Ouarzazate, que abastece mais de um milhão de pessoas com energia solar concentrada. O projeto mostra como países em desenvolvimento podem liderar a agenda verde.
Na Índia, o estado de Gujarat promoveu um programa inédito que levou energia solar descentralizada a centenas de escolas e centros de saúde em áreas rurais. A combinação de financiamento público, inovação tecnológica e mobilização comunitária tem sido a chave do sucesso.
Na Europa, a cidade de Copenhague caminha para ser a primeira capital neutra em carbono até 2025. O modelo inclui energia eólica offshore, aquecimento urbano eficiente e um sistema de bicicletas integrado com transporte público elétrico.
Casos de sucesso: o Nordeste como potência em energia limpa
A boa notícia é que a transição energética já está em curso — e o Brasil, em especial o Nordeste, tem se destacado como uma das regiões mais promissoras do mundo em produção de energia renovável.
A energia eólica, por exemplo, teve um salto impressionante na última década. Hoje, o Brasil ocupa a 6ª posição no ranking mundial de capacidade instalada em energia dos ventos. Só o Rio Grande do Norte concentra mais de 250 parques eólicos em operação e é o maior produtor do país nesse segmento. As cidades de Serra do Mel, Parazinho e Areia Branca são verdadeiros celeiros de turbinas, movimentando não só a matriz energética, mas a economia local, com geração de empregos e desenvolvimento de infraestrutura.
Já a energia solar avança rapidamente no semiárido nordestino. O estado da Bahia tem o maior parque solar da América Latina, o Complexo Solar São Gonçalo, em São Desidério, com capacidade instalada para abastecer mais de 500 mil residências. O Piauí e o Ceará também têm se destacado pela instalação de usinas solares flutuantes em reservatórios, o que evita evaporação da água e otimiza o uso do território. Em todo o Brasil, a geração distribuída por painéis solares em telhados já ultrapassa 2 milhões de sistemas instalados, uma revolução silenciosa e descentralizada.
E há inovações ainda mais ousadas ganhando espaço: a energia gerada a partir das ondas do mar. No litoral cearense, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) desenvolveram o Projeto Peld, que transforma o movimento das ondas em energia elétrica. O projeto-piloto instalado em Porto dos Pecém representa um marco na exploração do potencial marítimo brasileiro. Segundo os pesquisadores, se amplamente implementada, essa tecnologia poderia abastecer milhares de famílias litorâneas com energia limpa e constante.
Esses exemplos demonstram que o Brasil não apenas tem recursos naturais abundantes, mas também conhecimento técnico e vontade de inovar. Como diz o professor Fernando de Noronha da Universidade Federal da Bahia:
“O semiárido deixou de ser sinônimo de escassez para se tornar símbolo de abundância energética. Onde antes havia seca e abandono, hoje há luz, trabalho e esperança.”
O Nordeste brasileiro, portanto, prova que é possível iluminar sem destruir. A experiência regional pode — e deve — servir de modelo para o restante do país e para o mundo.
Energia limpa como direito, não como luxo
O acesso à energia não deve ser um privilégio. Ele é um direito humano básico, pois está intrinsecamente ligado à saúde, educação, mobilidade, segurança e qualidade de vida. No entanto, para que essa energia seja verdadeiramente limpa, ela deve respeitar o meio ambiente e os direitos das comunidades envolvidas em sua produção e distribuição.
O professor Daniel Kammen, da Universidade da Califórnia, Berkeley, reforça:
“A transição energética precisa ser inclusiva, localmente adaptada e centrada nas pessoas. Caso contrário, estaremos apenas trocando um problema por outro.”
O ODS 7 nos convoca a repensar o modelo energético vigente e construir um futuro onde o desenvolvimento não signifique destruição. Trata-se de iluminar caminhos de forma limpa, justa e sustentável. Os avanços tecnológicos existem. As soluções estão disponíveis. O que falta, muitas vezes, é coragem política, responsabilidade corporativa e engajamento social.
Em seu livro Agenda 2030 ao Alcance de Todos, Juscelino Olyveira enfatiza que a energia a acessível e Limpa é um dos pilares para o progresso sustentável da humanidade e reconhece que, nas últimas décadas, houve um avanço significativo no acesso à energia elétrica em todo o planeta. No entanto, ele alerta que esse progresso precisa ser acompanhado de um compromisso real com fontes renováveis.
"É necessário que todos entendam a importância de substituirmos com a máxima urgência as fontes de energias não renováveis e poluidoras por fontes renováveis, com energia limpa e a preço acessível a todos.”
O autor observa com entusiasmo o crescimento da geração distribuída por meio da energia solar, especialmente com placas fotovoltaicas em telhados residenciais, como exemplo de inovação acessível e eficaz. Para ele, essa transição representa não apenas uma resposta ambiental, mas também uma ação social estratégica:
"Essa energia é fundamental para que possamos diminuir e acabar de vez com as originárias de combustíveis fósseis [...], que acabam provocando danos à natureza, a ponto de interferir na mudança do clima, causando grandes prejuízos para todos."
Para que a energia limpa cumpra seu papel transformador, é preciso mais que placas solares e turbinas eólicas. É preciso mudar mentalidades, revisar prioridades e construir um pacto coletivo em torno da vida e da justiça ambiental. Sem isso, continuaremos acendendo luzes com as mãos sujas de carbono.
O livro Agenda 2030 ao Alcance de Todos pode ser adquirido no site da Ícone Editora.













